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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

Apoio ao Paulo Silva

12.11.04, MSA
ApoioPauloSilva.jpgPaulo Silva, o navegador de Rodrigo Ferreira no Troféu Fiat Punto, continua internado no Hospital de Santo António na cidade do Porto, onde recupera do infeliz acidente que a equipa sofreu na penúltima classificativa do Iduna Rali Lafões (Senhora do Castelo/Vouzela-3) e que, graças à rápida acção de alguns espectadores, não atingiu proporções de tragédia.
Mais do que falar do que se passou, de quem tem razão, de quem não parou, e do que se podia e devia ter feito, importa estar com um amigo e praticante do automobilismo numa altura de ansiedade e cuidado para ele e para os seus.
Mais do que saber que a sua recuperação está a correr bem dentro do possível, graças ao apoio familiar - e não só - que tem tido e também à sua grande força de vontade, poderemos todos estar com o Paulo através de simples e encorajadoras palavras.
Basta deixar uma mensagem em www.paulosilva.icom.pt onde a lista vai crescendo e onde o navegador poderá depois concluir que muita gente está a "torcer" por ele nesta difícil e sinuosa "classificativa". Não custa nada e vai saber tão bem...

O regresso da Poesia no dia 10 de Novembro de 2004

10.11.04, MSA
ALMA (José Carlos de A. Brito)
A Willian Blake


1
De etéreos dedos
E mãos aladas
Sobre meu corpo

- Morto vivente -

Que guarda as águas
Absorvidas
De um rio louco,

(Sob aparência
De coisa nua
De um insepulto)

Você foi anima
Surgida em fogo:
Teu manto oculto.

2
As tuas chamas
Que me acenderam
Um breve riso

Não te consomem
Com a paixão;
São frontispício.

3
Tu não tens alma
Pois só tens vida;
A que eu tinha.

Se tenho a morte
A vida é tua
Tu (alma) és minha.

4
De ti eu tenho,
Vindo da chama,
Um leve sopro

E por ser morto,
Não tenho amor;
Está em teu corpo.

Nos ares da vinha do Senhor Aurélio...(Crónica)

10.11.04, MSA
Vinha.jpgPor histórias contadas pelos mais velhos sei que as casas da família da minha Avó, no Porto Martins, sempre foram de uva afamada e vinho cuidado. Pois como esses tempos foram de outros a minha iniciação nas hostes vindimeiras foi do lado oposto da ilha: nos Biscoitos. Em criança ainda me lembro de pisar uvas na adega do Dr. Machado, mas foi mesmo no lado norte dessa Terceira que me “perdi” de amores por valas e “curraletas”! Por mero acaso, e depois de uma actuação fora de tempo da nossa marcha das Sanjoaninas, acabei por pernoitar ali pela Canada do Porto, na casa dos meus vizinhos de Angra, o Marquinho e a Patrícia. O dia amanheceu com as “marcas” de uma noite dançada, mas havia vários cheiros no ar. Um deles era da cozinha e da famosa feijoada que a Dona Bernardete estava em modos de preparar, o outro era a uva ansiosa pela colheita e exalava pela vinha do Senhor Aurélio, a única pessoa a quem deixo que me chame “Luís Miguel”, pois já nem me soaria bem ouvir-lhe a voz se me dirigisse só o segundo nome. Num ápice estava na vinha e já o João “das Iscas” me ensinava a melhor forma de “quebrar” o cacho sem “esparrinhar” as pérolas de Baco. Que dia aquele! Foi um fartote de trabalho, de risos, e uma descoberta que, afinal, me faria guardar no coração a proximidade daquela data nos anos seguintes. É que, como em muitas outras, na vindima do Senhor Aurélio o trabalho era até à hora do almoço. Depois…depois viesse o assunto a baile que logo seria discutido com afinco, o mesmo com que se abria mais uma cerveja fresquinha, e tão parecido com o que fazia trincar um pedaço de entrecosto ainda quente da brasa.

Falava-se de toiros, do vinho-de-cheiro dos Biscoitos (aliás a adega ostentava o epíteto de “Confraria do Vinho de cheiro”), e aquelas paredes, meias com a alegria, não deixavam derreter ao sol o esforço de mais uns litros de suor…e de tinto! Nas várias vindimas a que fui a memória encarregou-se de ir “seleccionando” imagens e recordações que perdurarão até que, a páginas tantas, as mesmas se vão confundindo com outro dia de orgulho naquela e noutras casas das redondezas: O Domingo do porto. Mas isso já serão contas de outras histórias. Hoje é da vindima que me quero lembrar. Dos muitos cestos “recheados” da mais pura rocha e que os mais afoitos nunca pararam de transportar às costas. Das chegadas esperadas da “Orquestra do Mendonça”, onde o hábil percussionista marcava o ritmo fazendo uso dos seus “tarecos”, “Mini-tarecos” e da piada de assobio. Dos dias em que o Zeca Freitas ia para a varanda fazer de “capataz” da empreitada, revelando mais jeito na função do que na apanha da uva (!). Dos dias em que o Domingos desaparecia por minutos e surgia ao fundo, no torreão, fantasiado do personagem da altura. Das desgarradas atrevidas, onde me via aflito para debater com o Gouveia, pressão que já se atenuava quando o adversário era o Fagundes. Do dia em que, em pose com o Sr. João Garcia, cantámos a “Rua do Capelão” ao som hábil de um violão bem tocado. Dos “eternos” ensaios de um grupo de veteranos (na idade…) aprendizes de tocadores, que nunca chegaram a rumar ao Oriente desejado. Do encontro sistemático de gerações, cujas diferenças de idade se iam pondo como o sol ao mar com o avançar da tarde. Das tardes ruidosas com todos os nossos amigos de touradas e Carnavais, especialmente os que apareciam à hora de almoçar com o tradicional “-Não deu para vir mais cedo…”. Das deslocações às “nocturnas” da Vila Nova que davam sempre direito a uma “digressão” pelas canadas dos Biscoitos ou das Quatro Ribeiras. Das tigelas de barro onde se provava o resto do vinho velho e da “guerra” para não deixar transbordar a garrafa de vinho doce que vinha até Angra…quando lá chegava! Do convívio, do são convívio que se vivia daquele portão para dentro e que tão bem soubemos manter, longe dele, ao longo dos anos.

Hoje a vinha está dividida e a vindima já não tem a dimensão dos últimos tempos, mas ficou uma marca em cada um dos muitos que por ali passaram em dia de levar a uva ao balseiro. A saúde e o vagar já não sopram como dantes mas é essa a marcha que torna preciosos aqueles momentos. Não podia deixar de fechar a prosa com uma das tiradas mais lembradas das vindimas daquela casa. Em certo ano, alguém perguntou ao Senhor Aurélio se não seria bom que a figueira da entrada desse dinheiro no lugar de figos. Ele não se “desmanchou” na resposta e disparou: “-Pior era se desse cerveja…que aí é que eu tinha de dormir debaixo dela com a cartucheira na mão!...”

De volta?

10.11.04, MSA
Estou assim com uma ligeira vontade de recomeçar a escrever pelos dias...
Exigo de mim próprio um certo rigor (até nos SMS me nego a abreviaturas e calinadas...) na expressão escrita, mas o pior mesmo é quando o tempo e a imaginação unem laços com a preguiça natural de quem gosta de escrever, mas não de se cansar com isso...
Vem-se chegando o frio e o eterno adiar das corridas higiénicas pré-natalícias já marca pontos aqui pelas pernas (de ex-atleta...) do "je". Vamos a ver se acabo de vez com os fantasmas do passado que dão pelos nomes de inércia (o fantasma português...) e "laissez-passer" (o francês...qu'isto agora vamos ter líder "portuga" na Europa comunitária)...a ver vamos, a ver vamos.

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