Está decidido. Passado o prazo, determinado pela Constituição, de silêncio presidencial na matéria, Jorge Sampaio veio publicamente dizer aos portugueses que vai dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas antecipadas. Nada que já não se soubesse e nada, sejamos francos, que já não se adivinhasse quando, há algumas semanas atrás, Sampaio permitiu a formação de um governo de "continuidade" após o abandono de Durão Barroso. Na altura o chefe da nação foi claro e não compreendo a admiração que a última semana trouxe a várias malhas da nossa vida pública. Se o governo chefiado por Durão já mal respirava por si, o executivo que teve o fugaz Santana aos comandos enterrou-se na lama por vontade e ambição próprias. Nada pois de admirar e a medida de agora é tão clara como a de então. A Lei que nos rege permite que o chefe de Estado decida e acho que Sampaio decidiu bem nas duas ocasiões. Acho também que houve precipitação do então líder do PS em demitir-se, pelo menos as razões que apresentou foram ligadas à tomada de posição de Sampaio, bem como do próprio governo que se formou sobre bases inseguras e recorrendo a algumas figuras pouco coerentes com a direcção que propalava.
Tenho agora algumas esperanças que espero se concretizem a 20 de Fevereiro de 2004, a data para a qual Sampaio apontou as baterias às urnas. De forma breve e seca: o "fim" eleitoral do CDS de Paulo Portas; a vitória sem maioria absoluta do PS de Sócrates; o "entalar" do PSD para uma posição de menor peso político e a nova experiência de Portugal rumar a uma esquerda lavada e virada para a frente. Como? Nem me atrevo a perguntar?...