"Vai no Batalha"!
"Vai no Batalha" é uma típica expressão portuense, que revela falta de crença no que se acabou de ouvir - pronto, semelhante a dizer que é mentira... -, numa clara alusão a que a história "passaria" no "Batalha", uma conhecida e antiga casa de cinema da cidade Invicta, localizada na praça com o mesmo nome.
Na manhã do dia de Reis fui para a Batalha - mas é verdade, tirei fotos e tudo... -. Uma das entradas de sol na cidade, mas onde cheguei antes dele, ainda numa bruma um tanto gelada, que fazia criar névoas pessoais à respiração de cada um, enquanto abriam as lojas, se esfregavam as mãos, chegavam os primeiros autocarros, se expunham as mercadorias na rua e a vida entrava célere para o final da quadra festiva. Ladeada pela sumptuosidade do Teatro de São João ou pela singela beleza da igreja de Santo Ildefonso, a Praça da Batalha é aprumada o suficiente para não ser popularucha, mas passagem de gente também suficiente para ser um ponto vital da cidade. Até porque quem quer ouvir bem, também "vai à Batalha", pois lá se encontra a sede portuense da "Casa Sonotone".
Assim, e enquanto se fazia dia, desci Fernão de Magalhães, passei o Padrão, atravessei os Poveiros e dei por mim na Batalha, onde fiquei até quase ao final da manhã, acompanhado da minha "velhinha" FinePix, fruindo simplesmente tudo aquilo, defendido pelos óculos escuros e um boné castanho, rumando amiúde até ao cimo do rio, às Fontaínhas, à Sé, a Santa Catarina ou à mais recente Ponte do Infante, de onde se tem um panorama diferente da parte final do sempre-presente Douro, rumo à foz. Pela falta de paciência para explorar melhor o que uma máquina fotográfica digital permite, e desconhecendo mesmo a maioria das funcionalidades da pequena e algo antiga bridge, por ali andei, feito estrangeirado, em busca de olhares ou de palavras, ouvindo crianças a cantar aos reis na Junta da Sé ou a recontar o movimento das camionetas, que traziam e levavam pessoas, piscando ao vazio eléctrico para os turistas ou ao mais composto autocarro descapotável. Vi uma discussão que quase dava em pancadaria, fixei pregões, li os jornais nas montras, aferi o cheiro a fruta e a café, e senti as gentes da cidade em pura ebuliçao, tentando não fazer parte dela de forma alguma. É uma das formas como adoro descobrir este Porto. E que repeti... conseguindo, felizmente.