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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

01.Jul.11

Terra de toiros… (*)

A nossa mais recente devoção ao toiro...

Foto: Ricardo Laureano.

 

A ilha Terceira é uma terra de toiros. A afirmação cresce plena, ano após ano, alicerçada numa imensa tradição, mas também capitalizando frutos para o futuro, o mesmo que se sabe continuará a ser de ameaças para a festa brava por esse mundo fora. Mesmo no dito mundo taurino.

A questão nem se põe sobre a tendência vigente nesta ilha redonda, bastando para tal constatar um conjunto de dados e informações, e por eles emanar, com propriedade, o gosto de viver numa terra de toiros. Porque a Terceira nem precisa de ter anualmente mais de duas centenas de touradas à corda. A Terceira nem precisa de montar uma das melhores feiras taurinas do país. A Terceira não precisa de, na sua história, ter já servido de berço a dúzia e meia de ganadarias. A Terceira não precisava de ter formado cavaleiros de alternativa, um matador de toiros, vários potenciais toureiros ou de manter actualmente dois grupos de forcados. A Terceira nem precisaria de um grandioso monumento ao toiro, afinal é isso mesmo que esta nossa terra - a tal ilha redonda, tão redonda como uma lide de brilho -, encarna de Maio a Outubro e em todos os santos dias do defeso: uma dedicação ao toiro que se aplaude. Mas que também só pode ser compreendida por quem dela se abeire, ou mesmo a possa viver por dentro…

Escrever sobre a festa brava, numa publicação que lhe é especialmente dedicada, sem mostrar os rudimentos do toureio na sua plenitude como o labor principal do texto, ou sem sequer versar o seu completo léxico, linha a linha, pode parecer estranho. Mas nem o é. Assim, limito-me a partilhar o gosto pelo toiro, pela ligação pura que, dos campos e da natureza, faz chegar às estradas e redondéis. É que o mote da festa é o toiro. Quem o cria sabe porque o faz e o amor à causa supera os ganhos efectivos, tal como em tantas outras áreas, sendo que a manutenção de uma espécie, dos seus atributos e características, norteia também a função. Daí que, em bem mais que um ajuntamento de pessoas, que comem, bebem e convivem, ir a uma tourada à corda é um acto de cultura popular, onde bem se poderão apreciar os dotes do toiro. E daí que, bem mais que rumar a uma montra social de relevo e ponto de encontro de saudade, entrar numa praça de toiros, completa de garbo e cortesias para apreciar a festa, se revista como acto integral. Afinal, ali respeita-se o toiro, criação única para aquela função de humildade e triunfo. Por melhor que sejam o cavaleiro, o matador, o forcado, o ferro à tira, o passe perfeito ou a união de amor, quem vence é o toiro, pois toda a função está em redor dele.

Nesta nossa Terceira, como em tanta paragem aficionada desse mundo distante, há uma certeza e um orgulho. Somos de uma terra de toiros.

 

(*) Texto publicado na revista "Festa na Ilha" (Edição nº15), da Tertúlia Tauromáquica Terceirense