Dar cavaco à Praça Velha...
O título desta crónica pode pressupor alguma mariscada na sala de visitas da cidade património dos Açores, mas não. Pretendo somente aflorar os dois acontecimentos políticos mais importantes dos últimos dias, e que foram a reeleição de Cavaco Silva como presidente da república e a apresentação (ao público) da requalificação decidida para a Praça Velha. O primeiro facto, pela miserável quantidade de eleitores que, no arquipélago, se dirigiu às urnas, parece nem ter despertado grande interesse, até porque em causa estava apenas escolher o mais alto magistrado do país. Já no que toca ao assunto seguinte, aí a coisa fia mais fino, pois de imediato as vozes populares se levantaram, como se da coerência estética da bonita praça dependesse a felicidade humana.
Vamos por partes e, na corrida a Belém, Cavaco Silva obteve mais ou menos o que se esperava – no meu caso escrevi em Outubro mais ou menos o mesmo que escreveria hoje… -, sendo reencaminhado num cargo, para o qual promete uma nova via institucional nos cinco anos que se seguem. Atrás dele ficaram candidatos de regime, de acusações, de cidadania e de (até) espontânea palhaçada, mas o povo foi soberano e atribuiu à estabilidade e à maior coerência dos apoios consagrados por Cavaco o importante papel de segurar o país, por menos destaque que se queira dar à intervenção presidencial.
Aqui ao pé da porta, onde aliás Cavaco esmagou a concorrência de forma claríssima, o debate da Praça Velha tomou os cafés vizinhos, rumando à sociedade angrense que já se manifestou em petição pública por uma ampla e aberta discussão rumo à consensualidade da intervenção. Intervenção que, aliás, até é de aplaudir, pois a dita praça bem precisada está de uma mexida, sendo só pena que o estado decrépito de todo o piso público do centro angrense não mereça da entidade camarária tal clemência.
Mais do que dar aqui a minha opinião sobre os bancos de betão escolhidos – que até acho feios para o fim em vista… -, sobre o quiosque em causa – que também acho feio… - ou sobre as árvores anunciadas – que espero se coadunem tecnicamente com a regularização esperada para a manta de Mestre Maduro Dias… -, alerto para um facto indesmentível e que, esse sim, criou o alvoroço eminente de se (re)mexer no coração de uma cidade. E logo de uma cidade como Angra.
Munida do mesmo senso democrático com que anuncia à vereação maioritária da oposição muitas das suas acções, a câmara municipal decidiu requalificar a Praça Velha “sem dar cavaco às tropas”. E as tropas, neste caso o povo que resta lúcido na sequência hereditária do velho burgo quinhentista, achou que isso era um abuso. Como abusivas têm sido várias intervenções de monta no nosso concelho. Felizmente o povo ainda é soberano, só que nas tropas vai mandando (mesmo) quem governa…