Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

O Presidente (crónica)

28.10.10, MSA

Cavaco Silva recanditatou-se à presidência da República...

Ainda antes da ruptura das negociações em torno do Orçamento do Estado, Cavaco Silva apresentou a sua recandidatura a Belém, tomando afinal a decisão que todos esperavam, e querendo decalcar ao máximo a toada da candidatura inicial, sendo claras as parecenças visuais e até motivacionais face à sua iniciativa de há cinco anos. Em 2006 apoiei uma candidatura de cidadania, criada no seio da sociedade civil, contra dogmas partidários e, como tal, original no conteúdo e balanceada pelas belas palavras de Manuel Alegre, o tal que, sem o apoio da força política no poder, ia levando Cavaco a uma segunda volta. Mas também o tal que nos anos seguintes mais não fez que ir pedinchando o apoio socialista, visando nova candidatura, mas rompendo com os pressupostos de luta que antes Alegre soube apresentar e defender. “Palavras leva-as o vento”, e assim fez Alegre com os ideais em que assentou a sua primeira ida às urnas, ficando-se agora pela melancolia de uma intervenção sem sumo e aquém do que o seu estofo intelectual encerra. E só foquei este ponto porque não tenho dúvidas, nem históricas nem práticas, da reeleição de Cavaco Silva em Janeiro próximo. Bem vistas as coisas, e a coerência pode bem ter sido o ponto comum do seu mandato de entrada, que se gerou polémicas e discussões deve isso ao momento actual do país, que já era mauzinho em 2005. Como caracterizar que as principais criticas – atiradas a preceito ao economista de Boliqueime - se prendam com a ultrapassagem dos poderes de presidente, e que depois as principais reacções à sua recandidatura desembainhem exactamente que deixou o pais no estado em que está? Então que coerência tem quem o acusa de querer governar demais e depois lhe cola o pecado de ter desgovernado a nação? Algo vai mal na classe política, é um dado adquirido, mas agora sacudir do capote dos governantes a sua responsabilidade parece-me um exagero de momento, mesmo se as forças políticas de maior dimensão vão sendo cada vez mais inábeis no uso dos pressupostos da democracia. Se eu votar em Janeiro, até o devo fazer em Cavaco. Até porque acho a abstenção a mais absurda atitude dentro dos pressupostos atrás citados. Isto, mesmo que Cavaco não se ria até lá. É que, pensando na realidade do país, também eu tenho pouca vontade de me rir…