Rali Ilha Lilás: "Está na hora!"
Fotos: Ricardo Laureano
Sexta-feira de rali. Zona das Avenidas de Angra e o burburinho de outrora já não é tão visível. Uns carros aguardam vez para alinhar direcções e calibrar rodas. O Yaris da “Meloa de Santa Maria”, esse esteve em exposição durante uns dias, mas mais ou menos escondida a azáfama do rali já não tem a mesma cor. As oficinas dispersaram-se pela ilha, a estradas mudaram, e ir à Praia é agora um “tirinho”. As lombas do Barro Vermelho e os muros traiçoeiros do velho Serra do Cume deram lugar às rápidas zonas do Império/Feteira ou à descida alucinante para o Caminho do Meio, mantendo-se apenas o misticismo das Veredas, hoje uma verdadeira pista e bem longe do empedrado ladeado de arbustos que impunha respeito a qualquer passagem. Como a vida, esta coisa dos ralis também sofre mutações, mas uma coisa está exactamente igual, se não maior: a vontade de ir para estrada. De participar, de assistir, de ajudar, de relatar ou de eternizar em imagem, tudo se junta numa mole humana que impressiona a cada saída e, e uma vez mais na Terceira, “Está na hora do rali”!...
Será possivelmente a última prova do campeonato deste ano – mercê das dificuldades para levar à estrada o derradeiro evento em São Miguel -, e já estão decididos dois dos quatro títulos a atribuir. Ricardo Moura sagrou-se tri-campeão só com vitórias, e Paulo Maciel estreou-se no campeonato com o ceptro da Formula 3. Por entregar está um merecido galardão a João Faria (F2), enquanto nos VSH do “Regional”, a ausência do líder e campeão em título, Milton Resendes, deixa o faialense Paulo Costa em posição privilegiada. Na luta absoluta, nota ainda para a indefinição quando ao vice-campeonato, luta em que Pedro Vale parte com vantagem sobre Sérgio Silva.
Assim por alto, bem pode dizer-se que estão reunidos os condimentos para um rali sem pressão pontual de vulto, e onde todos terão a obrigação de andar depressa sem olhar às tabelas. Ricardo Moura, rodado de mais um rali nacional, e com centenas de quilómetros em asfalto nos meses de Agosto e Setembro, é o candidato natural a vencer, mas o certo é que os deslizes não serão perdoados por um Gustavo Louro motivado, isto apesar da falta de rodagem desde Abril último. Ainda no pódio, a luta promete entre Ricardo Carmo, o jovem Luís Miguel Rego, e principalmente os já referidos candidatos ao “vice”, Vale e Silva, sempre com Hermano Couto “à espreita”. No mundo das duas rodas motrizes até 1,6 litros vai instalar-se a mais feroz batalha, com Marco Veredas, os manos Silva, Carlos Costa e Fernando Meneses possivelmente um tanto adiante de Henrique Moniz, com o graciosense Cláudio Bettencourt e o C2 de Ruben Rodrigues a serem “outsiders” de luxo. Na F2 o feudo é de Olavo Esteves, mas a animação deve ser rija entre Sérgio Cardoso, Carlos Andrade e Cláudio Cabral, que terão no quase-campeão Faria uma referência a reter.
Entre os VSH, a citada ausência de Resendes muda um pouco as preocupações pontuais, mas é certo e sabido que Paulo Veredas e Jorge Sousa serão os mais rápidos em casa, se bem que Bruno Tavares seja um nome a contar face ao seu potencial, este ano apenas confirmado em Santa Maria. Nos Clássicos vai correr-se a quatro, mas é sabida a inacessibilidade aos tempos de Adelino Sousa por banda da concorrência, mesmo se o espectáculo está garantido.
Uma estrutura simples e curta – talvez em demasia… -, e sem grandes novidades a assinalar, dá corpo a um rali bastante compacto, onde a década com um patrocínio comum e a declarada vontade de fazer bem feito devem nortear os homens do Terceira Automóvel Clube. No ano do 35º aniversário, nada como uma boa cigarrada depois de um café de qualidade…
Atravessadelas “à Leão”…
As andanças dos automóveis têm tanto de emoção como podem ter de camaradagem. E aí, nada como uma boa mesa e sossego para pôr a conversa em dia e explicar as habilidades necessárias ao atravessar de um carro numa curva apertada…ou até ao atravessar de um pedaço de presunto serrano e uma tira de queijo de São Jorge em cima de uma fatia de pão de milho!
Na quarta-feira à noite, um pequeno grupo juntou-se na “Casa Leão” - estabelecimento onde o “chef” Maurício ostenta orgulhosamente uma foto da Renault 4, em que navegou o conhecido Manuel Ávila, em grande plano e duas rodas na curva da Tercon… -, para um convívio em que o mote eram os carros de rali, mas cujo “parque de assistência” ostentava antes chicharros fritos, morcela, linguiça, orelheira, batata doce ou meloa. Enfim, tudo material de primeira para enfrentar o primeiro troço em grande forma. As equipas Paulo Veredas/Hugo Couceiro e Cecília Augusto/Alexandra Ferreira – isto face à ausência forçada do Starlet de Filipe Moura/Duarte Gil -, davam as boas vindas à prova (que também foi de um bom tinto…), reunindo-se os condimentos para um rali Ilha Lilás com o estômago bem mais aconchegado e o pé esquerdo cheio de força. Até porque a “Amorinha” final adoça a boca a qualquer navegador…