A festa dos ralis! (crónica)
Já cheira a rali na Terceira. A frase pode parecer simplista, mas o certo é que comporta uma realidade cada vez mais comum, ainda mais suportada por se pronunciar no seguimento de uma semana onde os motores estiveram presentes em força num dos concelhos da ilha. Com a realização do 32º Rali Ilha Lilás, que foi adiada duas semanas, já depois do próprio clube organizador ter abdicado da sua data ideal de realização em prol de outras duas provas – Madeira e Santa Maria –, poderá mesmo encerrar-se o campeonato açoriano de 2010, tudo porque em São Miguel os apoios camarários das autarquias ligadas aos dois ralis mais pequenos – Ribeira Grande e Lagoa – parece que se tornaram inviáveis, sendo que assistimos já este ano ao inédito retirar de um apoio prometido, mas uns meses depois do evento realizado. Falo concretamente da falta ao pagamento do policiamento de Outubro passado, por banda da autarquia lagoense, que ia inviabilizando o Rali da Ribeira Grande…deste ano! Mas adiante, que agora é tempo de falar do “Lilás”…também deste ano. Por acaso o mesmo ano em que as autarquias tiveram papeis algo distintos no apoio aos participantes oriundos de cada banda da Terceira, ou haverá quem se tenha esquecido das licenças e equipamentos de segurança oferecidos em Angra faz daqui a uns dias ano e meio? Também não vou por aí, e até têm de se referir as diversas demandas camarárias em prol da modalidade, afinal se há coisa que movimenta uma terra é um rali, mesmo se há ainda muita cabecinha com responsabilidades a não vislumbrar tal realidade. O certo é que na Terceira os ralis vão avançando, ano após ano, como uma actividade muito participada, mesmo se as contingências financeiras de uma modalidade que é cara fazem apertar o cinto. Entretanto, e segundo as notícias mais recentes “o governo dos Açores continua a apoiar o desporto automóvel, nomeadamente o campeonato regional de ralis”, pode ler-se num comunicado oficial, onde a designação da competição está errada, mas esse já nem é um problema. Mais adiante, a tutela justifica a sua acção “por reconhecer nestas organizações diversos motivos de interesse para a região”. Assim sendo, é com imensa satisfação que releio o reconhecimento governamental “ao entusiasmo e adesão dos açorianos à volta das organizações de provas do desporto motorizado”, bem como a aceitação “ao fluxo turístico interno e externo que estas competições potenciam, com impacto nas actividades económicas”, afinal são daquelas intervenções que se podem fazer sempre, pois ninguém as discute, e os anos passam. Na recente apresentação do Rali Ilha Lilás, foi ainda salientado, e cito novamente, que, “para além dos apoios públicos, os clubes organizadores de provas de desporto automóvel conseguem congregar um vasto leque de apoios privados”, apoios esses considerados positivos, pois são “um indicador da importância destas provas no meio em que se inserem”. Ora essa também eu a digo. E pode dizer outro adepto qualquer, afinal é mais que sabido que o actual campeonato – que, já agora, se chama Campeonato dos Açores de Ralis, havendo sim um “regional”, mas que é dedicado aos VSH… - está sustentado, e aqui falo da organização de provas, em praticamente uma única empresa, havendo as benesses camarárias, mas essas parecem estar a cair em desuso, a ver pelas provas realizadas, ou não, na maior ilha da região, a mesma que congrega três ralis desse campeonato, e onde se leva a cabo o maior acontecimento desportivo do arquipélago. Esse sim, com um orçamento milionário e onde a entidade governativa não se escusa a esforços financeiros para a sua efectivação. Entretanto, continuam os pilotos, que estão federados numa instituição de utilidade pública ao que se sabe também a roçar a bancarrota, a não ter apoios para viajar inter-ilhas, para ter assistência médica em condições, para usufruírem do transporte das viaturas em melhores condições e em todos os eventos, e mais algumas situações que desmotivam a, ainda assim, crescente prática da modalidade. Neste ano, em que assinala os seus 35 anos, o TAC organizou o maior número de provas de sempre e, na Terceira, as organizações particulares em parceria com o clube bateram os recordes de adesão e publicitação das provas. Convinha pois que, nestas festas dos ralis, não viesse quem apoia sem sentido, ou esquece a realidade em que vivemos, apenas atirar os foguetes, comemorando o trabalho que os outros vão tendo…