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PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

PORTO DAS PIPAS

miguel sousa azevedo - terceira - açores

26.Jan.14

Os Toiros como (um) valor social...

Miguel Sousa Tavares foi um dos convidados do certame...

Foto: Fernando Pavão

 

(a opção, nesta 3ªedição do Fórum, foi explanar com pormenor, e diariamente, uma das suas fases. No segundo dia do certame foram abordados os valores sociais...)

 

"Os Valores Sociais da Festa dos Toiros" motivaram o segundo painel de sábado, segundo dia do certame, com Juan Carlos Gíl a moderar o que disse ser uma "terna" de luxo, no que toca aos convidados.

Alejandro Pizarroso, responsável pelo curso de jornalismo da Universidade Complutense de Madrid, abriu as hostes. Personalidade multifacetada e polémica, fez referência às nossas raízes latinas/romanas, tal como da própria tauromaquia. Orador desgarrado, traçou o perfil dos taurinos que tratam de arte, desde a origem da Europa. Mas que se juntam e se ouvem uns aos outros. Apenas isso.

Pizzaroso alertou para o exército "da propaganda", na forma de divulgar a festa como um todo, sem o cunho da política que, no caso concreto do velho continente, é incapaz de uma real caracterização do setor. Assumindo-se como comunista - "Soy rojo!" -, desprezou a corrente marxista, "que nada sabe sobre tauromaquia...porque Marx seria um aficionado dos toiros", afirmou.

Salientando que o público dos toiros é transversal, económica e socialmente, alertou para a guerra aberta que há contra a festa: "Os anti-taurinos não hesitam em ser violentos", disse.

Em ternos de conhecimento deixou uma mensagem clara sobre os 4 protagonistas do toureio - uma arte cuja linha, pelos tempos, segue metodicamente a luta travada na arena. "Porque é uma luta"... -: O toureiro, que é o artista; o toiro, que é um produto artificial, de criação e seleção humana; o público, a quem se dirige a arte; e os media, que passam a mensagem, desde os jornalistas aos mentideros...

Ficou em remate que a tauromaquia "é uma arte verdadeira, que se vê na praça", permanecendo como "a mais jovem de todas as artes".

 

Estrela mediática do certame, Miguel Sousa Tavares (MST), assumiu com bom humor que a sua presença seria "um erro de casting", face à qualidade taurina de todos os intervenientes. Recorde-se que MST, aquando da abolição das touradas na Catalunha, referiu na SIC, quando questionado se em Portugal se poderia adotar o mesmo caminho, que se tratava do "caminho da estupidez". Para MST o "que está em causa é uma questão de liberdade, e em Democracia as minorias são respeitadas", até porque "só vai a uma tourada quem quer". Realçando a eterna aprendizagem a que a Festa Brava obriga, o autor de "Equador" lembrou a violência que a elite urbana teve com o povo de Barrancos, face à manutenção desejada de uma tradição. Foi mais uma prova da superioridade moral latente da nossa sociedade, em que não se respeitam as diferenças ou as minorias. Miguel Sousa Tavares afirmou as touradas como mote para várias áreas sociais, despertando curiosidades e paixões. E isso acontece na Literatura, na Pintura, na Fotografia ou na Arquitetura. Daí a necessidade real de manter a Festa, até porque "a palavra proibir é a mais perigosa do dicionário". Assim, destacou também a importância das touradas - como da caça - para a sustentabilidade do mundo rural, do campo, do interior. O que hoje se vive no mundo taurino é um combate aberto contra o politicamente correto, e simultaneamente, contra o ridículo. Numa intervenção pausada e sem grandes eufemismos, o advogado/escritor/jornalista leu a parte inicial de "Rio das Flores", onde um aturado estudo permitiu descrever uma lide de Juan Belmonte, na "Maestranza" de Sevilha, há cem anos. "Foi uma forma singela de homenagear Llorca ou Garcia Marquez", disse. Foi uma das intervenções mais aplaudidas, mormente pela clareza das suas intenções, e bem para lá da (sua) explanação. Uma aposta ganha.

 

Hélder Milheiro, da Comissão Executiva da "Prótoiro" - a Federação Portuguesa das Associações Taurinas - apresentou uma comunicação clara sobre a perceção, a realidade e a comunicação do valor da Tauromaquia, centrando ideias no crescimento da Festa e na sua plena divulgação. Mostrou dados de uma sondagem (2012) que indica 86,1% dos portugueses como sendo contra a proibição das corridas de toiros. Isto num universo em que 32,7% se assumem aficionados, 20,6% indiferentes à questão, 32,8% querem liberdade de escolha e apenas 11% são contra os toiros. Mais de metade dos inquiridos (Eurosondagem) já viu uma tourada ao vivo e 66% costumam ver na televisão.

Tendo em conta que, em 32 municípios e 2 regiões do país, a Tauromaquia já é Património Cultural Imaterial, é visível que falta um grande estudo para aferir o impacto económico e social que a mesma tem em Portugal. Hélder Milheiro não se cansou de referir a discussão enviesada que há em torno da matéria, daí que avance com a proposta da criação de uma verdadeira marca "Tauromaquia" (definição dada como exemplo), em que as potencialidades do marketing permitam uma profunda revitalização da Festa, como aconteceu recentemente com o Fado. Atualizar essa comunicação é pois, urgente, sendo fulcral acrescentar valor, à escala nacional, ao fenómeno dos toiros. Os exemplos da austríaca Red Bull - "uma bebida azul, de sabor horrível..." e da WWE (Wrestling) foram avançados como casos bem sucedidos de um core-business à escala global. Que vai fazendo escola...

 

Por fim, Marco Gomes, professor de Matemática de Alter do Chão, numa alocução muito simples mas sintomática, apresentando as valias do Clube Taurino do agrupamento de escolas daquela região, uma iniciativa pioneira, que tem dado frutos e que vai divulgando entre os mais novos os valores e a realidade das touradas. E neste exemplo, que vai agregando seis dezenas de jovens da raia alentejana, junto à nata da Tauromaquia, estão bem visíveis os valores que a Ilha Terceira discutiu durante três dias. A utilização da Festa como preparação para a vida quotidiana, face à carência desses mesmos valores, de forma disseminada, junto da juventude portuguesa. Assim, criar novos aficionados parece ser um caminho que resulta naquele concelho do distrito de Portalegre. O respeito pelos outros, o trabalho de grupo, a solidariedade e o incentivo à leitura e à escrita estão presentes no trabalho relatado por Marco Gomes que, de uma maneira entusiasmada, relatou visitas, ações e iniciativas que vão prestigiando a sua escola, com um grupo de alunos "que mantém as boas notas e se sentem realizados nas descobertas que a Tauromaquia lhes permite". Parecendo um lado menor de um evento do grande abrangência, a intervenção de Marco Gomes deixou-nos a pensar. E se houvesse 50, ou 100, clubes taurinos do género espalhados pelo país?

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