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No "Diário Insular" de hoje pode ler-se que "Tendo em conta que o tema do Outono Vivo deste ano é o teatro realiza-se até hoje, na Casa das Tias de Vitorino Nemésio, o workshop "Teatro - O transtorno da escrita", orientado pelos dramaturgos Álamo Oliveira e Norberto Ávila".
Infelizmente, não foi assim. Fui o único inscrito da iniciativa, que acabou por não ter lugar. E seria até amanhã, caso se tivesse efetivado.
Fico sem saber se me admiro pela falta de adesão dos terceirenses a estas andanças, se me espanta o facto de não se ter realizado o workshop, apesar de ter um único participante.
Num caso ou noutro, estarei sempre a pedir demais...
E vai-se embora um Lou Reed para andar por aí esse papalvo do Joseph Blatter...
Quase 24 horas depois, é só para dizer que o Porto jogou melhor que o Sporting. Tá?
Como densa é a vida. Como denso fica o tempo. E como denso se nos dá a conhecer o coração...
Lou Reed (1942-2013)
VESPALOGY from Nomoon on Vimeo.
Dizem-se tempos de Outono. Na prática, uma passagem inesperada dos dias de sol e brisa amena para um cinzento que tarde se compreende. Mesmo quando o astro-rei espreita, mesmo quando os corações aquecem, mesmo quando as manhãs enganam todas as previsões em mais uma jornada. O verão abalou e, secretamente, todos ansiamos pelo seu regresso.
Se, no resto do mundo, ligamos o outono, de forma quase automática, a paisagens bucólicas, com folhas de vários tons de amarelo e laranja espalhadas pelo chão, e com o fim do dia a fazer confundir o pôr-do-sol - face à coloração que a retina guarda a cada 24 horas -, nos Açores não é assim.
Por estas ilhas, de bruma mas também de isolamento e melancolia, os sorrisos têm mais valor. É inegável afirmá-lo, e tão só a vontade de sair de quando em vez o confirma, como as forças renovadas em torna-viagem asseguram essa permissa. No nosso outono, o mar começa a insistir nos rugidos. No nosso outono, as nuvens baixas enchem-nos a vista e dificultam o admirar das paisagens. No nosso outono, a vida ganha contornos diversos, mas tarda em conseguir ver-se nitidamente. "O inverno vem aí", segredará, baixinho para si própria.
E como na primavera das paixões ou no estio das festas, também por esta altura as recordações surgem mais vivas. É assim no início de cada ciclo, e é assim ao longo de um único dia, desde que o sol acorda até se fazer repousar no mar. Como se a vida tivesse 24 horas, como se cada ciclo existisse entre a aurora e o ocaso.
No outono regressam as memórias de lápis novos e cadernos brancos, nos primeiros dias de escola. Mesmo para quem sempre achou essa obrigação um fardo complicado de gerir. No outono revitalizam-se energias e aproveitam-se de outra forma as margens dos convívios. Olham-se as pessoas de maneira diferente, apela-se menos aos óculos escuros e começam a apertar-se mais botões. Até se vestem casacos. É que, no outono, os tempos mudam. E, tantas e tantas vezes, ficam exatamente da mesma maneira...